8ª etapa: Comentário da oração Jubilar

Percurso « Se consagrar ao Sagrado Coração de Jesus »
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8ª etapa: Comentário da oração Jubilar
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A última etapa ofereceu um procedimento simples para viver a consagração ao Sagrado Coração. Nesta oitava etapa fiz um comentário da oração do Jubileu de 350 anos.

 

Senhor Jesus,

Tu revelaste a Santa Margarida Maria teu Coração tão apaixonado pelo amor por todos os homens e por cada um em particular. Hoje, tu nos convidas a beber na fonte de Teu Coração que permanece mais aberto do que nunca.

Neste Sacramento de Amor que é a Eucaristia,

Nós te oferecemos nossas fadigas e nosso cansaço: dá-nos o repouso;

Nós te expomos os nossos sofrimentos e nossas feridas: console-nos e cure-nos;

Nós te apresentamos nossa dureza de coração: transforme-nos na mansidão e humildade;

Nós depositamos diante de ti nossas ingratidões e nossas indiferenças: que nós te oferecemos amor por amor;

Nós te falamos da nossa sede de te amar e de te anunciar: envia-nos na força do teu Espírito Santo.

 Senhor, nós nos consagramos a teu Coração, fornalha ardente da caridade. Faça de nós instrumentos que atraiam os corações ao Teu Amor. Queima-nos com a tua compaixão para darmos testemunho ao mundo deste Coração que tanto nos amou. Amém.

Esta oração é formada de três partes: a introdução, a ladainha dos pedidos e a oração final. Comentá-la permite-nos retomar na oração muitas coisas que já foram ditas e reentrar mais profundamente na profundeza da devoção ao Coração de Jesus.

Introdução

 

Senhor Jesus, tu revelaste a Santa Margarida Maria teu Coração tão apaixonado pelo amor por todos os homens e por cada um em particular.

A oração é dirigia a Jesus e é expressa na primeira pessoa do plural, porque a devoção ao Sagrado Coração é pessoal e eclesial. A primeira frase recorda o evento que o Jubileu faz memória: as Aparições do sagrado Coração há 350 anos.  Ela refere-se diretamente a primeira grande Aparição, que aconteceu em 27 de dezembro de 1673,  durante a qual Jesus declara  « Meu Divino Coração é  tão apaixonado de amor pelos homens e por ti em particular  ».

 

Hoje, tu nos convidas a beber na fonte de Teu Coração que permanece mais aberto do que nunca.

A segunda frase manifesta a atualidade da graça vivida em Paray e contém uma alusão ao cântico de Isaías 12: « Exultem de alegria, vocês tirarão as águas das fontes da salvação » (v. 3); versículo que dá seu nome a Encíclica do Papa Pio XII em 1956, Haurietis Aquas in Gaudio. Por fim retoma a afirmação do Papa João Paulo II de 06 de janeiro de 2001, por ocasião do fechamento da Porta Santa do grande Jubileu do ano 2000 em Roma: « Com o fechamento da Porta Santa, é um símbolo de Cristo que se fecha. Mas o Coração de Jesus permanece mais aberto do que nunca. »

 

Os seis pedidos da ladainha

 

Neste sacramento de Amor que é a Eucaristia,

A segunda parte é introduzida pela expressão « Sacramento de amor » que o Senhor utiliza para designar a Eucaristia durante a grande Aparição de junho 1675. Ela é composta por uma ladainha com cinco pedidos, que coloca os peregrinos na escola da experiência espiritual de Santa Margarida Maria.

 

Nós te oferecemos nossas fadigas e nosso cansaço: dá-nos o repouso;

Primeiramente, em 27 de dezembro de 1673, ela vai repousar longamente sobre o Coração de Jesus: « Ele me fez repousar por um longo tempo sobre seu divino peito ». Em uma carta ao Padre Croiset, ela precisará que este repouso dura « muitas horas ». Ao fazê-lo, ela responde ao chamado de Jesus no Evangelho para vir repousar sobre seu Coração: « Vinde a mim todos vós que estais cansados sob o peso do fardo, e eu vos darei o repouso. Tomem sobre vocês o meu julgo, e se torne meus discípulos, pois eu sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão repouso para vossas almas. » (Mt 11, 28-29). O discípulo São João, o primeiro que viveu tal experiência, durante a Última Ceia (Jo 13, 25), fato suficientemente importante para que o Evangelho fizesse uma nova alusão a ela após a ressurreição (Jo 21, 20). Muito cedo, os primeiros cristãos associaram efetivamente a João esta experiência muito particular. Assim.  no ano 180, Irineu de Lyon escreveu: « Em seguida, João, o discípulo do Senhor, que repousou sobre seu peito, publica ele também o Evangelho, enquanto ele habitava em Éfeso, na Ásia » (Contra as heresias III,1,1).

Nós te expomos os nossos sofrimentos e nossas feridas: console-nos e cure-nos;

Em segundo lugar, o Coração de Jesus é a fonte da consolação e da cura. O Papa Francisco nos convida a aproximar nossas feridas das feridas de Jesus. O hino da primeira epístola de Pierre aplica a Jesus o que o profeta Isaías anuncia no 4º poema do servidor sofredor  « Pelas suas feridas, nós somos curados » (Isaías 53, 5 et 1 P 2, 24). Durante a audiência concedida ao colóquio organizado pelo santuário de Paray sobre a Reparação Espiritual, em maio de 2024, o papa Francisco rezou « para que o santuário de Paray-le-Monial seja sempre um lugar de consolação e de misericórdia para todas as pessoas em busca de paz interior. »

A analogia do Coração com a imagem do sol e da fornalha durante a aparição de 1674 recorda o versículo do profeta Malaquias « O Sol da justiça nascerá: ele trará a cura em seus raios » (Mal 3, 20) frequentemente citado na espiritualidade de Paray le Monial

Nós te apresentamos nossa dureza de coração: transforme-nos na mansidão e humildade;

Em terceiro lugar, no dia 27 de dezembro, Jesus pede o coração a Margarida Maria. « Eu implorei para que ele o pegasse, e foi o que Ele fez, e o colocou no seu seio adorável, no qual Ele  me fez vê-lo como um pequeno átomo que se  consumia  nesta ardente fornalha, de onde ele o retirou com uma flama ardente em forma de coração  e Ele o colocou no lugar de onde ele o havia tirado. ». Ao fazer isso, o Senhor realiza a promessa profetizada por Ezequiel: « Eu vos darei um coração novo, eu colocarei em vós um espirito novo. Tirarei da vossa carne o coração de pedra, e eu vos darei um coração de carne. Eu colocarei em vós o Meu Espírito, eu farei com que marcheis segundo a minha lei » (Ez 3, 26-27). Jesus fala de seu Coração que Ele é « manso e humilde » (Mt 11, 29) e constata a dureza do coração de seus interlocutores ou dos discípulos (por exemplo em Mt 19, 8 ou Mc 6, 52).

Nós depositamos diante de ti nossas ingratidões e nossas indiferenças: que nós te oferecemos amor por amor;

Em quarto lugar, durante a aparição de 1674, Jesus queixa-se da falta de amor da parte dos homens: « Ele me revelou as maravilhas inexplicáveis de seu puro amor, até o ponto que ele chegou de amar os homens, dos quais Ele só recebia ingratidões e indiferenças. » Ele pede a Margarida Maria para lhe « dar amor por amor », expressão que surge várias vezes sob a “pena” da visitandina. Este é também o tema escolhido para este Jubileu dos 350 anos

 

Nós te falamos da nossa sede de te amar e de te anunciar: envia-nos na força do teu Espírito Santo.

Em quinto lugar, a devoção ao Sagrado Coração nos renova no zelo missionário para testemunhar ao mundo este amor ardente, no qual Margarida Maria e Claude La Colombière se ligaram, cada um segundo seu chamado. « Meu Divino Coração é apaixonado de amor pelos homens, e por ti em particular, que não podendo mais conter-se em si mesmo as chamas de sua ardente caridade, é necessário que ele seja espalhado pelo teu meio, e que seja manifestado a eles para os enriquecer com seus preciosos tesouros que eu estou te ver revelando » dirá Jesus durante a aparição de 1673. O tema da sede, associado ao amor está igualmente muito presente nas aparições. Numa de suas cartas ao Padre Croiset, Margarida Maria disse que Jesus a escolheu como um « instrumento para estabelecer esta devoção e atrair os corações para amar o Seu adorável, que tinha em si uma ardente sede de ser conhecido, amado e honrado pelos homens. »

Oração final

Senhor, nós nos consagramos a teu Coração, fornalha ardente da caridade

Por fim, a terceira parte apareceu como o ponto culminante do movimento espiritual desta oração de consagração ao Coração de Jesus. É bom lembrar que o lugar da oferta é a Eucaristia, como nós dissemos acima. Se consagrar ao Coração de Jesus não é nada mais do que se consagrar a sua pessoa, a Jesus Ele mesmo.  Jesus fala de seu Coração a Santa Margarida Maria como « a fornalha ardente de puro amor » (carta a Madre de Saumaise).  Ao longo das aparições é o símbolo do fogo que predomina como, por exemplo, nas aparições de 1674 que foi reproduzida na pintura da Capela das Aparições: « Jesus Cristo, meu Doce Mestre, se apresenta a mim, todo cheio de glória com suas cinco chagas, brilhantes como cinco sóis, e desta sagrada Humanidade saiam chamas por todos os lados, mas principalmente de seu adorável peito, que parecia uma fornalha ardente; e estando aberta, me fez descobrir todo o seu coração cheio de amor, que era a fonte viva destas chamas. »

Faça de nós instrumentos que atraiam os corações ao Teu Amor.

No retiro de 1678, Margaria Maria registra esta afirmação de Jesus « Eu quero que tu me sirvas de instrumento para atrair os corações ao meu amor. »  Retomada em nossa oração.

 Queima-nos com a tua compaixão para darmos testemunho ao mundo deste Coração que tanto nos amou. Amém.

O pedido « arder de compaixão » situa-se sobre o registro simbólico do fogo no qual se situa a experiência espiritual de Margarida Maria, como nós acabamos de dizer. trata-se de entrar nos  « sentimentos que estão em Cristo Jesus » (Filipenses 2, 5), na compaixão diante das multidões que perturbava seus entranhas: « vendo as multidões, Jesus foi tocado de compaixão para com eles, porque eles estavam desamparados e abatidos como ovelhas sem pastor.  » (Mt 9, 36).  A oração termina com a expressão de junho de 1675 que aparece como o cume da experiência espiritual de Santa Margarida Maria: « Eis o Coração que tanto amou os homens, e que não se poupou de nada, até a exaustão e se consumir, para lhes testemunhar seu amor. »

Na nona etapa, nós veremos como a consagração pessoal pode se alargar para um passo familiar e comunitário.