9ª etapa: Dimensões familiares e comunitárias da consagração

Percurso « Se consagrar ao Sagrado Coração de Jesus »
Percurso « Se consagrar ao Sagrado Coração de Jesus »
9ª etapa: Dimensões familiares e comunitárias da consagração
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Introdução

Na medida em que a consagração é uma renovação da consagração batismal, como nos vimos na segunda parte do nosso percurso, ela é um percurso pessoal oferecido a todos, leigos solteiros, casados ou religiosos, assim como os padres. Nós a propomos de uma maneira simples de vivê-la, na sétima etapa.

Nesta nona etapa, veremos como este passo pode se alargar e revestir um caráter familiar, eclesial ou mesmo social. Ele pode ser renovado em todo tempo e em todo lugar, pessoalmente, em família, na paróquia, em comunidade, segundo a frequência com que o Senhor nos inspirar.

  1. A consagração familiar

Primeiramente, a nível familiar Jesus prometeu derramar com abundancia todo tipo de bênçãos sobre as famílias que honrassem seu Coração, e que « por estes meios, eles reunissem as famílias divididas, e ajudasse e protegesse aqueles que estivessem em qualquer necessidade. » Nós retornaremos a isso quando falarmos da entronização da Imagem do Sagrado Coração nas casas (décima etapa).

Esta consagração, é também uma resposta de amor àquela que os esposos celebraram um dia em seu matrimônio, como o exprime o Catecismo da Igreja Católica: « os esposos cristãos, para cumprir dignamente os deveres de seu estado, são fortalecidos e como que consagrados por um sacramento especial. » (CEC, § 1535).

A família é «a Igreja doméstica», a primeira Igreja de uma certa forma.  Ela mostra em Jesus o verdadeiro pastor de nossas famílias, o « Rei dos corações », Aquele que vela sobre tudo que é nosso (familiares, profissionais, sociais) assim que damos o primeiro lugar no nosso coração e em nossa casa. Este é o sentido da consagração da família.

Na prática, a consagração familiar é proposta depois que a consagração pessoal ter sido pronunciada por todos (refiro-me ao sétimo passo que oferece uma sequência simples). São os pais que o pronunciam, conduzindo assim os filhos à vocação que receberam no dia do casamento e da qual são frutos. Não é necessário que todos os filhos estejam presentes, nem mesmo que ambos os pais estejam presentes. Assim, mesmo na dor da viuvez, da separação ou do divórcio civil, um progenitor solteiro pode consagrar completamente a sua família ao Coração de Jesus.

Eis aqui uma proposição de oração de consagração familiar.

Senhor Jesus, tu que te consagraste ao Pai por amor a nós, nós queremos, no sopro do teu Espírito Santo, te retribuir amor por amor nos consagrando a Ti. Nós queremos te consagrar a vida de nossa família na situação em que ela se encontre hoje. Nós Te consagramos nosso passado, nosso presente e nosso futuro, nossa casa, nosso trabalho e nossos gestos mais simples.  Nós te consagramos nossas alegrias e nossas provações para que o Amor com que Tu nos amas nos guarde em Ti e permaneça para sempre. Para que o fogo do Teu Amor abrase o mundo inteiro e que os reios de água viva de teu Coração jorrem para todos até a vida eterna. Amém!

  1. Dimensão comunitária da consagração

Na segunda etapa nós iremos expor o sentido de uma consagração comunitária ao Sagrado Coração de Jesus. A consagração pessoa me faz entrar numa dinâmica mais larga, que envolve minha família, minha paróquia, minha comunidade, minha escola ou minha diocese…

Não existe verdadeiramente uma fórmula pronta para consagrar uma comunidade ou uma paróquia. Cabe a cada realidade comunitária e eclesial discernir, em comunhão com seu pastor, a oportunidade e a maneira de viver uma consagração. Muito melhor. Alguns redigirão uma oração comunitária que assuma a história e os acentos espirituais próprios de sua espiritualidade. Outros utilizarão uma fórmula pessoal de consagração já existente que será rezada por todos em uma ocasião especial, como a festa do Sagrado Coração ou a festa do padroeiro.

Eis aqui, por exemplo, a oração pronunciada pelo Papa João Paulo II  por ocasião de sua viagem à  Índia em 1986.

Senhor Jesus Cristo, Redentor da raça humana, nós nos voltamos para Vosso Santíssimo Coração com humildade e confiança, com reverencia e esperança, com um profundo desejo de vos dar glória, honra e louvor. Senhor Jesus Cristo, Salvador do Mundo, nós te agradecemos por tudo o que tu és e tudo o que tu fizeste. Senhor Jesus, Filho do Deus vivo, nós te louvamos pelo amor que tu revelastes pelo tu Sagrado Coração, que foi transpassado por nós e que se tornou a fonte de nossa alegria, a fonte de nossa vida eterna. Reunidos em Teu nome, que está acima de teu nome, nós nos consagramos a Teu Sagrado Coração, no qual reside a plenitude da verdade e da caridade. Nós nos consagramos a Teu Santíssimo Sagrado Coração, no qual reside a plenitude da verdade e da caridade. Ao nos consagrar a Ti, nós, os fiéis, renovamos nosso desejo de corresponder à rica efusão de Teu amor misericordioso. Senhor Jesus Cristo, Rei de Amor e Príncipe da Paz, reina em nossos corações e em nossos lares. Seja vitorioso sobre todos os poderes do maligno e faça de nós participantes da vitória do teu Sagrado Coração.  Que nós possamos todos proclamar e dar glória a Ti, ao Pai e ao Santo Espírito, o único Deus que vive e reina pelos séculos dos séculos! Amém.

 

  1. Construir a civilização do amor

A devoção ao Coração de Jesus dilata nosso coração às dimensões do mundo e o conduz ao zelo de anunciar o Senhor por aquilo que nós somos, pelas nossas palavras e pelos nossos atos, na mansidão e na humildade. Assim Margarida Maria consagra os últimos anos de sua vida a fazer conhecer o amor do Coração de Jesus.  É assim que impulsionada por um zelo surpreendente, ela pede ao rei Luis XIV para colocar a imagem do Sagrado Coração sobre sua bandeira e de se consagrar ao Coração de Jesus. Não sabemos se este pedido chegou ao rei da França, que de fato, não levou em consideração. Não se trata aqui de nos atermos as questões históricas, teológicas e políticas que isso representa, mas antes de perceber a intuição profunda que animava Margarida Maria: a devoção ao Sagrado Coração de Jesus não é individualista, ela é chamada a traduzir-se na vida social, para « estabelecer o reino do Cristo em toda nossa vida e no mundo que nos rodeia », retomando o ideal escoteiro. Ela se torna missionária.

É isso que abrange a expressão « Reino social do Coração de Jesus », que conheceu um grande sucesso no XIX século e no início do século XX, levando a instituição da segunda festa litúrgica do Sagrado Coração que foi a festa do Cristo Rei em 1925. Uma certa recuperação política do Sagrado Coração explica, em parte, a desconfiança de grande parte dos católicos, principalmente na França, a partir da segunda metade do século XX. Contudo, o possível desvio não deve fazer-nos perder de vista o que há de certo nesta intuição, ou seja, a verdadeira devoção ao Coração de Jesus se exprime também a nível social e transforma a maneira dos cristãos de se investir na vida pública.

O Papa São João Paulo II, seguindo o Papa Paulo VI, utiliza uma nova expressão que deu um novo vigor a este aspecto da devoção ao Sagrado Coração: a « civilização do amor ». Assim, ele afirma que « a civilização do amor nasce de Deus, porque Deus é amor, e em Cristo, este amor que é Deus “se manifestou entre nós” ». É do Coração transpassado de Jesus crucificado que sai a civilização do amor. No santuário deste Coração, Deus se inclinou para o homem e Ele fez o dom da sua Misericórdia, o tornando capaz, por sua vez de se abrir para seus próprios irmãos e irmãs na misericórdia e o perdão » (discurso aos fiéis no estádio Nuoro , 20 de outubro de 1985)

Assim termina a terceira parte do nosso percurso, onde não mostramos como nos consagrar ao Sagrado Coração, pessoalmente, em família e na Igreja. Na próxima etapa, nós entraremos na quarta e última parte que dá maneiras concretas de colocar em prática a consagração de nossas vidas cotidiana pela entronização (décima etapa), a Guarda de Honra e a Rede de oração do papa ou Apostolado da Oração (décima primeira etapa).